No dia 30 de janeiro de 1875, um sábado, uniram-se pelos sagrados laços do matrimónio na capela da residência de Manuel Pontes Câmara, sita à rua Olinda, número oito, na cidade do Rio de Janeiro (Brasil), o jovem povoense António Ferreira Lopes e a menina Elvira de Pontes Câmara. Foi oficiante o bispo italiano D. Miguel Ferrini, à época residente na capital do Império do Brasil onde era representante de negócios do Vaticano.
António Lopes tinha então 30 anos de idade e Elvira 18.
Ele era um emigrante que partira da Póvoa de Lanhoso em 1857, aos 12 anos de idade, e que, no Rio de Janeiro, fizera carreira nos negócios dos cereais, sendo, desde há três anos, sócio do pai de D. Elvira no empório comercial “Câmara & Gomes”, que comercializava e exportava especialmente cafés.
Ela, uma jovenzinha nascida na cidade do Porto quando seus pais aí se encontravam de passagem, tinha crescido no Rio de Janeiro onde fizera estudos nos melhores colégios, aprendendo todo o conhecimento necessário a uma senhora da alta sociedade. Para além da língua mãe, lia e escrevia fluentemente francês (a língua para o “mundo” de então) e tocava piano com maestria.
Ao casamento, para além dos pais da noiva, das suas irmãs e irmão Manuel, esteve presente boa parte da sociedade carioca de então.
Este casamento, cujo centésimo quadragésimo terceiro aniversário hoje comemoramos, foi de uma importância extrema para a Póvoa de Lanhoso, município do interior rural minhoto, situado a mais de 8 mil quilómetros de distância da cidade onde a boda se realizou. António Lopes, que era já então um jovem comerciante com bons cabedais, ficou ainda mais rico pela sociedade com o futuro sogro Manuel de Pontes Câmara. Mas, quando em finais do século XIX regressou a Portugal, trazendo consigo a “muito amada esposa”, tinha aliado ao seu capital a herança que D. Elvira havia recebido de seu pai, já falecido (em 1881).
Foi com a junção dessas duas fortunas que, após esse regresso do nosso conterrâneo à sua terra natal, António Lopes e D. Elvira encetaram uma vida de dádiva à comunidade povoense, fosse através da construção de jardins, moradias, estradas, casa de espetáculos, fundação do corpo de bombeiros, criação de prémios escolares, distribuição de comida e roupas a conterrâneos pobres, etc., fosse, quando em 1917, já viúvo, António Lopes mandou edificar um hospital que ficaria para a história da terra como a joia maior da sua benemerência. Hospital esse que em 1928 deu lugar à fundação da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, instituição que, nos últimos 90 anos, o ampliou e modernizou, transformando-o num dos hospitais particulares mais modernos do país, em concelhos à dimensão do nosso.
José Abílio Coelho
Foto - *O Rio de Janeiro em 1889. Foto de Marc Ferrez (1843 –1923)