MEMORIAL DO CENTENÁRIO
O Memorial do Centenário do Hospital António Lopes, da autoria de Eduardo Bompastor, é uma alegoria à história da admirável unidade de saúde do concelho da Póvoa de Lanhoso que este ano completa 100 anos de existência, do seu fundador António Ferreira Lopes e da Misericórdia povoense que, em 1928, já após a morte do Grande Benemérito, foi fundada para o gerir.
Composto por um elemento em bronze, em forma de raiz, sobre o qual se sustentam, na vertical, nove cubos em granito que estiveram integrados na construção original do edifício, cada secção representa uma década vivida pelo hospital e pela Santa Casa. O elemento mais robusto, servindo de suporte a todos os nove pedaços de granito, é representado por uma raiz em bronze fundido. Esta fortíssima amarra ao solo representa a força, o querer e a determinação do fundador, o “brasileiro de torna viagem” António Lopes que, em 1917, edificou e pôs a funcionar o hospital. Sem esse Homem especial, o hospital não existiria. Por isso, no conjunto, é ele a peça fundamental sobre a qual assentam todas as outras. A raiz acompanha a distribuição dos cubos de granito pelas décadas, pois, crescendo e abraçando-se ao futuro, o vínculo continua a representar António Lopes que, cem anos volvidos, paira do mesmo modo sobre a sua grande obra de benemerência legada aos homens e mulheres da Póvoa de Lanhoso.
Os dois primeiros cubos representam as décadas de 1927-37 e 1937-47. Foram anos muito estáveis para a recém-criada Misericórdia, sobretudo pelo facto de os juros da herança em títulos que o fundador doou à sua obra maior, serem ainda suficientes para fazer face folgadamente ao custeio das despesas do hospital. Por razões várias e diferentes entre si, vemos, depois, alguns cubos cujo posicionamento é algo irregular.
O correspondente à década de 1947-57 marca o reflexo da II Grande Guerra que, na Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, só se repercutiu mais tarde, sobretudo pela quebra acentuada de rendimentos dos títulos depositados em instituições bancárias do Brasil.
A década de 1957-67 é também de alguma instabilidade, sobretudo pela morte em funções do provedor Pe. José António Dias, que esteve no cargo durante quase três décadas, e pelas dificuldades que a Misericórdia vinha então sentindo para fazer face aos seus compromissos.
A década de 1967-77 mostra-nos um tempo difícil para a Santa Casa e para o hospital. Se, por um lado, teve o benefício de contar com um bom provedor como o Eng.º Armando Rodrigues, que trouxe estabilidade à Casa através, sobretudo, da boa gestão do legado do benfeitor Francisco Joaquim Peixoto, o qual permitiu a compra do palacete e dos jardins das Casas Novas, a assunção do Lar de S. José anteriormente pertencente à paróquia ou o início da construção de dois blocos habitacionais que tinham como objetivo ajudar a financiar, com as suas rendas, as despesas da unidade de saúde, teve também anos negros, como o de 1972, com o falecimento repentino do provedor, e o de 1975, com a nacionalização do Hospital. Com esta posse administrativa por parte do Estado, continuando a pertencer-lhe o edifício, perdeu a Santa Casa a gestão da sua valência mais importante.
Na década de 1977-87 manteve-se alguma instabilidade, vivida com a Misericórdia ainda retirada da gestão da sua joia da coroa, o Hospital António Lopes.
Em 1987-1997 a Santa Casa estava já estabilizada. As suas valências de infância funcionavam em pleno e o Lar de S. José modernizou-se. Entretanto, estava em movimento a negociação de retoma do Hospital por parte da Santa Casa, que viria a trazer excelentes resultados.
A década 1997-2007 foi a da retoma e remodelação do hospital. Com a assunção da sua unidade de saúde, em 1998, e com o crescimento das valências Lar de S. José e Jardins Infantis, a Santa Casa entrou definitivamente numa nova era, implantando-se como a instituição mais importante de todo o concelho. 2007-17 foi a década da excelência. Às valências anteriormente existentes, juntou-se a ULDM – Unidade de Longa Duração e Manutenção D. Elvira Câmara Lopes, tão necessária nos tempos de hoje e, já em 2016, a nova Unidade Médico-Cirúrgica que mais que duplicou a área hospitalar, disponibilizando, agora, cerca de duas dezenas de especialidades médicas e meios complementares de diagnóstico, vinte modelares quartos e um bloco cirúrgico considerado como dos melhores existentes em hospitais da mesma dimensão.
É desejável que a década de ora se inicia permita, daqui a dez anos, a colocação de um novo cubo de granito que represente a continuação da estabilidade e da modernização desta unidade de saúde. JAC
Nota Biográfica sobre o Escultor do Memorial do Centenário
João Eduardo Leitão Bompastor
Nasceu em Caxinas, Vila de Conde, no dia 18 de Outubro do ano 1964.
Licenciou se na Escola Superior de Belas Artes do Porto.